O mais conhecido filho fruto de uma relação extraconjugal de Zeus é Hermes, filho de Maia, a mais velha, sábia e bela das Plêiades, as sete irmãs filhas do titã Atlas e Plêione.

Nasceu numa caverna do monte Cilene e desde cedo revelou uma precocidade extraordinária. Logo após nascer, libertou-se dos cueiros e viajou até a Tessália, onde furtou algumas reses do gado de Admeto, que era guardado por Apolo. Amarrou galhos de arvore na cauda dos animais de modo que quando andassem, apagassem os próprios rastros.
Numa gruta sacrificou duas novilhas aos deuses dividindo as suas partes em doze porções, embora os deuses olímpicos naquela época fossem somente onze. Na verdade, ele se havia autopromovido ao décimo segundo deus.
Em seguida escondeu o restante do rebanho e retornou a Cilene, mas no caminho encontrou uma tartaruga, matou-a e fabricou a primeira lira usando a carapaça da tartaruga e suas tripas, que se transformaram em cordas.
Apolo, um deus mântico, que possuia a arte da adivinhação, acabou descobrindo tudo e acusou-o de ladrão à sua mãe Maia. Ela não se conformou com a acusação pois o menino havia acabado de nascer e estava enfaixado no berço.
Apolo então apelou para Zeus, que interrogou habilmente o filho, mas este persistia em negar as acusações de seu irmão. Ao final, Zeus fez com que Hermes prometesse jamais dizer uma mentira, o que ele concordou, mas disse que não seria obrigado a dizer toda a verdade.
No fim do interrogatório, Apolo se encantou com o som provindo da Lira e concordou em trocar o rebanho por aquele instrumento musical. Hermes aceitou o negócio, desde que tivesse em troca lições de adivinhação.

Depois ele ganhou o Caduceu, seu principal instrumento que é um bastão de ouro, com duas serpentes enroscadas em torno dele, uma de cada lado e com um par de asas no alto, terminando com uma pequena esfera na extremidade superior. O caduceu representa o equilíbrio cósmico entre duas forças opostas, pois as serpentes enroladas formam o símbolo do infinito.
Esotericamente, está associado ao equilíbrio moral, ao caminho de iniciação e ao caminho de ascensão da energia kundalini. A serpente da direita é chamada Od, que representa a vida livremente dirigida; a da esquerda Ob, vida fatal e o globo dourado no cimo Aur, que representa a luz equilibrada.

Ele se torna o protetor dos comerciantes e dos ladrões, símbolo de tudo que implica em astúcia, ardil, embuste e trapaça. Protetor dos viajantes, é o deus dos caminhos e das estradas. Nas encruzilhadas costumava-se formar montes de pedras colocados pelos viajantes em homenagem ao deus, os “hérmaion”.

Andava com uma incrível velocidade, porque possuía sandálias aladas e em função disto tronou-se o mensageiro dos deuses. Pela sua constante mobilidade e outras qualidades intelectuais e relacionais, foi considerado o deus do comércio e do intercâmbio social, da riqueza advinda dos negócios, dos acordos e contratos, da amizade, da hospitalidade.

Em consequência disto, era o único a ter permissão de entrar e sair do reino de Hades, a mansão dos mortos, onde quem entrasse jamais sairia. Torna-se o deus “psicopompo”, aquele que transporta as almas do nível telúrico para o inferior, o ctônico.

Quando Roma entrou em contato com a cultura grega, operou um sincretismo de sua antiga divindade Mercúrio com o Hermes da mitologia grega. Até então apenas um deus do comércio, Mercúrio foi investido de todas as demais características e atributos do deus grego.

Outro sincretismo de enorme influência foi o da instituiçãode Hermes Trismegisto, ou “Hermes três-vezes-grande” no Egito. Lá ele foi fundido ao deus Thot, se transformando-se em Hermes – Thot, adquirindo o status de sacerdote e filósofo, ligado ao tempo, ao destino, à ordem cósmica, à lei, à sabedoria, à cultura e ao conhecimento, à religião e instituições civis, aos rituais, ao oculto e à magia.

Imagem de capa: The Elevation of the Great Elector into Olympus (detail), Charles-Amédée-Philippe van Loo, 1751