La Danse des Muses, Baldassare Peruzzi, 1514xy

20 de dezembro de 2024

As Musas

Após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os titãs, Zeus decidiu criar divindades capazes de cantar a vitória e perpetuar a glória dos Olímpicos. Zeus então partilhou o leito durante nove noites consecutivas com Mnemósine, a deusa da Memória, uma titânide, filha de Urano e Gaia, que veio dar à luz nove filhas, que foram chamadas de Musas.

Mnemosyne, mosaico Greco-Romano da deusa Mnēmosynē em Antioquia, séc. II d. C.

As filhas de Zeus e Mnemosine protegiam as Artes, as Ciências e as Letras. As nove Musas cantavam e dançavam para deleite das divindades do panteão olímpico. Não podemos esquecer que os descendentes divinos eram uma manifestação explicita de seus genitores, isto é, as Musas possuíam e expressavam as características de seus pais.

“… Felizes aqueles que as amam, porque se até o seu ânimo é perturbado de desgosto e dor, ao canto dos servos das Musas eles esquecem os maus pensamentos e não lembram de seus tormentos. Tal é o presente das Musas aos homens.” (Hesíodo)

O poder que lhes atribuem com mais frequência é o de trazer a mente das pessoas o não presente, ou seja, os fatos passados ou aqueles que ainda não aconteceram, por premonição. O poeta tocado pelas Musas há de relatar tais fatos, assim como lhe outorgam o dom do canto e lhe dão a elegância ao recitar.

Melpomene e Hesiodo, Gustave Moreau, 1891

Os poetas são senhores das palavras, porque as palavras são a expressão da representação dos fatos. A palavra do poeta tem poder sobre o mundo, porque traduzem a ordem cósmica manifesta na ordem da natureza e por consequência na ordem social, dando sustentação aos soberanos para organizar suas comunidades.
Frequentavam o monte Hélicon onde duas fontes, Aganipe e Hipocrene, tinham a virtude de conferir inspiração poética a quem bebesse suas águas. Ao lado das fontes, faziam gracioso movimentos de uma dança, com seus pés incansáveis, enquanto exibiam a harmonia de suas vozes cristalinas.

Dance of the Muses on Mount Helicon, Bertel Thorvalldsen, 1807

Diversos deuses as visitavam, mas seu irmão Apolo era o que elas mais tinham prazer em receber. O deus da Música e da Medicina as encantava com seus versos e todas se reuniam ao seu redor para ouvir suas canções ao som de sua lira.

Apollo, Mnemosyne, and the Nine Muses, Anton Raphael Mengs, 1761

Outra deusa que estava sempre presente era sua irmã Palas Athena, a deusa da Sabedoria e das batalhas em prol da Justiça. A virginal deusa se alegrava em estar em companhia das Musas, pois sabia que delas só receberia bons fluidos.

Minerva entre as Musas, Hendrick van Balen the Elder, 1620

As Musas foram sendo, pouco a pouco, caracterizadas por atributos especiais, e a arte reservou a cada uma delas um papel particular:


• Calíope (Musa da Poesia, da eloquência e da epopeia) patrocinava a poesia heroica, sendo representada, por vezes, com uma coroa de louro (o prêmio dos heróis). Ela também é a mais velha e a mais sábia delas e teve dois filhos com Apolo: Orfeu e Linus. Numa das mãos ostenta uma trombeta ou um estilete com tabuinhas de cera e mostra as poesias épicas: a Ilíada e a Odisseia. Significado do nome: ” aquela que tem bela voz”.

Calliope, Charles Meynier, 1798

• Clio (Musa da História e do canto dos heróis) presidia à História. Era também musa dos heróis, sendo a sua principal ocupação manter viva a recordação dos grandes atos e triunfos. Geralmente é representada com uma trompa na mão direita e com um livro aberto ou com um rolo de papiro na mão esquerda. Ela também é a responsável pela introdução do alfabeto fenício na Grécia. Significado do nome: “a que celebra, a proclamadora”.

Clio, Pierre Mignard, 1689

• Érato (Musa do canto coral e da poesia amorosa) aquela que desperta o desejo, é representada coroada de mirtilo e rosas, com uma com uma lira em uma mão e o plectro na outra. Significado do nome: “adorável, amorosa”.

Erato at her Lyre, John William Godward (1861-1922)

• Euterpe (Musa da música e da poesia lírica) nome que significa gênio agradável, aquela que alegra. É sempre representada com coroas de flores e com uma flauta. Ela também é a Musa da alegria e do prazer e a ela atribui-se a invenção da flauta dupla, que é o seu símbolo. Significado do nome: “a que traz o júbilo e o deleite”.

Euterpe, François Boucher, 1755

• Melpômene (Musa do canto, da harmonia e da tragédia) inspirava as histórias trágicas. Aparece vestida de forma rica e de olhar severo, com uma mão empunha um cetro, folhas de videira, uma máscara da tragédia ou um punhal ensanguentado. Significado do nome: “coro”.

Melpomene, Johann Heinrich Tischbein the Elder, 1782

• Polímnia (Musa do canto, dos hinos e da retórica) preside a orquestra e patrocinava o canto. Representavam-na vestida de branco, envolta por um véu, com a cabeça rodeada de uma coroa de pérolas em pose de pensamento. Na mão, por vezes, sustem um cetro como símbolo do poder que exerce a eloquência. Inventou a lira. Significado do nome: “muitas canções, muitos hinos”.

Polyhminia, Charles Meynier, 1800

• Terpsícore (Musa da Lírica coral e da dança) dirige a dança. O seu ar jovial, a sua atitude ligeira, algumas grinaldas de flores e uma lira são as suas características. Significado do nome: “deleite ao dançar”.

Terpsichore, Jean-Marc Nattier, 1739

• Tália (Musa da Comédia) traz na mão uma máscara cômica. Retratada como uma menina alegre e jovial, tem olhar irônico. É mostrada portando uma coroa de louros sobre a cabeça. Significado do nome: “festividade, florescimento”.

Thalia, Jose Luis Muñoz Luque, nascido em 1969

• Urânia (Musa da Astronomia e Astrologia) é representada ladeada por um globo celeste que mede com um compasso. Representam-na com um vestido azul-celeste com estrelas e uma coroa também de estrelas. Aos seus pés vislumbram-se alguns instrumentos de Matemática. Significado do nome: “rainha das montanhas, celestial”.

Urania, Louis Tocqué (1696-1772)

Desta forma, o poder divino de Zeus aliado a deusa da Memória trouxe divindades capazes de inspirar os artistas e assim deixar o mundo com mais poesia e beleza.

Parnassus (Apolo, as Musas e os poetas), Rafael Sanzio, Palácio apostólico do Vaticano, 1511

Imagem de capa: La Danse des Muses, Baldassare Peruzzi, 1514

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