Após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os titãs, Zeus decidiu criar divindades capazes de cantar a vitória e perpetuar a glória dos Olímpicos. Zeus então partilhou o leito durante nove noites consecutivas com Mnemósine, a deusa da Memória, uma titânide, filha de Urano e Gaia, que veio dar à luz nove filhas, que foram chamadas de Musas.

As filhas de Zeus e Mnemosine protegiam as Artes, as Ciências e as Letras. As nove Musas cantavam e dançavam para deleite das divindades do panteão olímpico. Não podemos esquecer que os descendentes divinos eram uma manifestação explicita de seus genitores, isto é, as Musas possuíam e expressavam as características de seus pais.
“… Felizes aqueles que as amam, porque se até o seu ânimo é perturbado de desgosto e dor, ao canto dos servos das Musas eles esquecem os maus pensamentos e não lembram de seus tormentos. Tal é o presente das Musas aos homens.” (Hesíodo)
O poder que lhes atribuem com mais frequência é o de trazer a mente das pessoas o não presente, ou seja, os fatos passados ou aqueles que ainda não aconteceram, por premonição. O poeta tocado pelas Musas há de relatar tais fatos, assim como lhe outorgam o dom do canto e lhe dão a elegância ao recitar.

Os poetas são senhores das palavras, porque as palavras são a expressão da representação dos fatos. A palavra do poeta tem poder sobre o mundo, porque traduzem a ordem cósmica manifesta na ordem da natureza e por consequência na ordem social, dando sustentação aos soberanos para organizar suas comunidades.
Frequentavam o monte Hélicon onde duas fontes, Aganipe e Hipocrene, tinham a virtude de conferir inspiração poética a quem bebesse suas águas. Ao lado das fontes, faziam gracioso movimentos de uma dança, com seus pés incansáveis, enquanto exibiam a harmonia de suas vozes cristalinas.

Diversos deuses as visitavam, mas seu irmão Apolo era o que elas mais tinham prazer em receber. O deus da Música e da Medicina as encantava com seus versos e todas se reuniam ao seu redor para ouvir suas canções ao som de sua lira.

Outra deusa que estava sempre presente era sua irmã Palas Athena, a deusa da Sabedoria e das batalhas em prol da Justiça. A virginal deusa se alegrava em estar em companhia das Musas, pois sabia que delas só receberia bons fluidos.

As Musas foram sendo, pouco a pouco, caracterizadas por atributos especiais, e a arte reservou a cada uma delas um papel particular:
• Calíope (Musa da Poesia, da eloquência e da epopeia) patrocinava a poesia heroica, sendo representada, por vezes, com uma coroa de louro (o prêmio dos heróis). Ela também é a mais velha e a mais sábia delas e teve dois filhos com Apolo: Orfeu e Linus. Numa das mãos ostenta uma trombeta ou um estilete com tabuinhas de cera e mostra as poesias épicas: a Ilíada e a Odisseia. Significado do nome: ” aquela que tem bela voz”.

• Clio (Musa da História e do canto dos heróis) presidia à História. Era também musa dos heróis, sendo a sua principal ocupação manter viva a recordação dos grandes atos e triunfos. Geralmente é representada com uma trompa na mão direita e com um livro aberto ou com um rolo de papiro na mão esquerda. Ela também é a responsável pela introdução do alfabeto fenício na Grécia. Significado do nome: “a que celebra, a proclamadora”.

• Érato (Musa do canto coral e da poesia amorosa) aquela que desperta o desejo, é representada coroada de mirtilo e rosas, com uma com uma lira em uma mão e o plectro na outra. Significado do nome: “adorável, amorosa”.

• Euterpe (Musa da música e da poesia lírica) nome que significa gênio agradável, aquela que alegra. É sempre representada com coroas de flores e com uma flauta. Ela também é a Musa da alegria e do prazer e a ela atribui-se a invenção da flauta dupla, que é o seu símbolo. Significado do nome: “a que traz o júbilo e o deleite”.

• Melpômene (Musa do canto, da harmonia e da tragédia) inspirava as histórias trágicas. Aparece vestida de forma rica e de olhar severo, com uma mão empunha um cetro, folhas de videira, uma máscara da tragédia ou um punhal ensanguentado. Significado do nome: “coro”.

• Polímnia (Musa do canto, dos hinos e da retórica) preside a orquestra e patrocinava o canto. Representavam-na vestida de branco, envolta por um véu, com a cabeça rodeada de uma coroa de pérolas em pose de pensamento. Na mão, por vezes, sustem um cetro como símbolo do poder que exerce a eloquência. Inventou a lira. Significado do nome: “muitas canções, muitos hinos”.

• Terpsícore (Musa da Lírica coral e da dança) dirige a dança. O seu ar jovial, a sua atitude ligeira, algumas grinaldas de flores e uma lira são as suas características. Significado do nome: “deleite ao dançar”.

• Tália (Musa da Comédia) traz na mão uma máscara cômica. Retratada como uma menina alegre e jovial, tem olhar irônico. É mostrada portando uma coroa de louros sobre a cabeça. Significado do nome: “festividade, florescimento”.

• Urânia (Musa da Astronomia e Astrologia) é representada ladeada por um globo celeste que mede com um compasso. Representam-na com um vestido azul-celeste com estrelas e uma coroa também de estrelas. Aos seus pés vislumbram-se alguns instrumentos de Matemática. Significado do nome: “rainha das montanhas, celestial”.

Desta forma, o poder divino de Zeus aliado a deusa da Memória trouxe divindades capazes de inspirar os artistas e assim deixar o mundo com mais poesia e beleza.

Imagem de capa: La Danse des Muses, Baldassare Peruzzi, 1514