Na tentativa de explicar a natureza da matéria, o ser humano desde a antiguidade formulou diversas teorias. Culturas ancestrais na Grécia, no Tibete e na Índia discorriam sobre os quatro elementos, algumas vezes incluindo até mesmo um quinto elemento, o éter.

No Tibete foram construídas enormes estruturas chamadas estupas, símbolos gigantescos da estrutura da criação. A sua base era um cubo, representando a Terra, sobre a qual repousava uma esfera, simulando a Água; no alto da esfera havia uma estrutura semelhante a uma espiral, relativa ao Fogo e no topo havia uma meia lua, simbolizando o Ar.
História
Mas foi na Grécia que a teoria dos quatro elementos foi sistematizada e chegou até nossos dias, como veremos a seguir.

Tales de Mileto (624 a.C. — 546 a.C.) foi um filósofo pré-socrático, astrônomo, matemático, engenheiro da Grécia Antiga, fundador da Escola Jônica. Considerado, por alguns, o primeiro filósofo ocidental, é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Ele considerava a Água como sendo a origem de todas as coisas, o arqué ou arkhé, traduzida como “substância primordial”, que constituía a essência do Universo.

Anaxímenes de Mileto (588 a.C. — 524 a.C.), foi um filósofo pré-socrático do Período Arcaico, que afirmava ser o Ar a sua substância primária, todas as coisas existentes são resultado da condensação ou da rarefação do ar. Ele foi o primeiro a associar os pares de qualidades Quente / Seco e Frio / Úmido a um material.

Empédocles de Agrigento (495 a.C. — 430 a.C.) foi um filósofo e pensador pré-socrático grego, conhecido por ser o criador da teoria cosmogônica dos quatro elementos clássicos que fazem toda a estrutura do mundo: Fogo, Terra, Ar e Água. De acordo com as diferentes proporções em que esses quatro elementos são combinados uns com os outros é produzida a estrutura da matéria.

Aristóteles de Estagira (384 a.C. — 322 a.C.) retomou essa ideia por volta de 350 a.C. e acrescentou que a matéria seria formada por quatro elementos: terra, água, ar e fogo, mas que existiria um substrato único para toda a matéria, que porém seria impossível de isolar, serviria apenas como um suporte. A terra estaria no centro dos quatro elementos, em seguida vinha a água, acima vinha o ar e, por último, acima de todos, o fogo.
Tradicionalmente os elementos são divididos em dois grupos: os ativos ou auto expressivos, que englobam o Fogo e o Ar e os passivos e receptivos, que são a Terra e a Água.
Vejamos as características específicas de cada elemento, bem como seu estado físico:
Fogo – estado de Plasma
Está relacionado a uma energia universal radiante, que através de sua luz dá cor ao mundo. Se conecta à intuição, ao plano espiritual, à decisão, à grande fé em si mesmos, ao entusiasmo, uma honestidade em seu discurso e a manifestação de sua vontade.
Terra – estado Sólido
Representa a estrutura do corpo físico, a matéria, a estabilidade e a percepção da realidade. Estão sintonizados com o mundo das formas, que os sentidos e a mente prática encaram como real. Tem uma grande força de resistência e persistência que os tronam capazes de cuidar de si mesmos.
Ar – estado Gasoso
Representa a mente, os pensamentos e o entendimento. É o símbolo da liberdade, da expansão, da comunicação e da criatividade. Tratam das experiencias com as relações teóricas da imaginação que podem se concretizar ou não.
Água – estado Líquido
Está relacionado às emoções e aos sentimentos. Representa a fluidez, a intuição e a emoção. Sua sensibilidade é muito grande e sua permeabilidade a fatores externos é pronunciada, a ponto de se desestabilizarem emocionalmente em determinados ambientes.
As qualidades Primitivas

Acrescentemos a estes elementos suas qualidades primitivas:
Fogo – quente e seco; expansão tensa.
Terra – fria e seca; contração tensa.
Ar – quente e úmido; expansão fluida.
Água – fria e úmida; contração fluida.
Segundo Gregório José Pereira de Queiroz: “Fluidez / Tensão podem ser consideradas irmãs gêmeas de Expansão / Contração, pois constituem características conceitualmente semelhantes. Mas Tensão / Fluidez diz respeito a um comportamento passivo, próprio da forma, enquanto Expansão / Contração diz respeito a uma atitude ativa, própria da energia.”
Ele acrescenta: “As Qualidades Primitivas são estados dinâmicos, forças atuantes que existem no cerne de tudo que existe. Elas não são substâncias, como são os Elementos, mas sim dinâmicas ou tensões, movimentos puros.”
Os quatro temperamentos

Hipócrates de Cós (460 a.C. — 370 a.C.) foi o primeiro a formular uma teoria do temperamento, baseando-a na teoria dos quatro elementos de Empédocles. Segundo ele há quatro tipos de temperamento, conforme domine no corpo do indivíduo um dos quatro fluidos corporais (humores): sanguíneo (sangue), fleumático (linfa ou fleuma), colérico (bílis) e melancólico (astrabílis ou bílis negra). Cada um deles possui uma determinada característica:
- Sanguíneo: expansivo, otimista, mas irritável e impulsivo;
- Fleumático: sonhador, pacífico e dócil, preso aos hábitos e distante das paixões;
- Colérico: ambicioso e dominador, tem propensão a reações abruptas e explosivas;
- Melancólico: nervoso e excitável, tendendo ao pessimismo, ao rancor e à solidão.
Segundo Rudolf Steiner: “O homem realmente está dentro de uma corrente que podemos chamar de corrente da hereditariedade, das características herdadas. A isso, porém, ainda se acrescenta, nele, algo diferente, que é o mais íntimo cerne espiritual da entidade humana. Assim, o que o homem trouxe do mundo espiritual une-se com o que o pai, a mãe, os antepassados lhe podem dar […] Aquilo que se coloca entre a linha hereditária e a linha que representa a nossa individualidade expressa-se pela palavra “temperamento” […], é algo como a fisionomia de sua individualidade mais íntima.”
A analogia que se faz dos Temperamentos Humanos com os elementos é a seguinte:
- Sanguíneo – Ar
- Fleumático – Água
- Colérico – Fogo
- Melancólico – Terra
Os tipos Psicológicos de Jung

Segundo Elvina Lessa: “…em 1921 Carl Gustav Jung trouxe uma contribuição fundamental para o entendimento da tipologia humana, ao escrever um de seus mais importantes trabalhos, o livro “Tipos Psicológicos”, fruto de mais de 20 anos de observação e do exercício da Medicina Psiquiátrica e da Psicologia Prática.
Na concepção de Jung, ‘Tipo é uma disposição geral que se observa nos indivíduos, caracterizando-os quanto a interesses, referências e habilidades. Por disposição deve-se entender o estado da psique preparada para agir ou reagir numa determinada situação’.
Jung distinguiu duas formas de atitudes ou disposição das pessoas em relação ao objeto: a pessoa que prefere focar a sua atenção no mundo externo de fatos e pessoas (extroversão), e / ou no mundo interno de representações e impressões psíquicas (introversão).
Na visão de Jung, o Tipo Psicológico de um indivíduo é determinado pela introversão ou extroversão e por quatro funções conscientes que o ego habitualmente emprega, as funções psíquicas.
Ele definiu as funções como: Sensação, Pensamento, Sentimento e Intuição. Estas, junto com as atitudes de introversão e extroversão, representarão os Tipos Psicológicos. Segundo Jung, existem duas maneiras opostas através das quais percebemos as coisas – Sensação e Intuição – e existem outras duas, que usamos para julgarmos os fatos – Pensamento e Sentimento.
A Sensação e a Intuição são funções irracionais, uma vez que a situação é apreendida diretamente, sem a mediação de um julgamento ou avaliação. Já as funções Pensamento e Sentimento são consideradas racionais por terem caráter judicativo e por serem influenciadas pela reflexão, determinando o modo de tomada de decisões. …”

Aqui podemos fazer uma correlação entre os tipos psicológicos de Jung e os quatro elementos, ou seja:
A Intuição é análoga ao elemento Fogo, devido ao fato de ser uma atividade extrovertida e irracional, porque uma pessoa em uma atividade dinâmica como o esporte ou uma batalha não pensa, age seguindo seus instintos.
A Sensação é análoga ao elemento Terra, devido ao fato de ser uma atividade irracional e introvertida, porque uma pessoa usa seus cinco sentidos sem pensar, como quando sente o perfume de uma flor ou vê um belo prato de comida.
O Pensamento é análogo ao elemento Ar, devido ao fato de ser uma atividade extrovertida e racional, como quando fazemos abstrações matemáticas ou quando um arquiteto projeta uma edificação para depois colocar no papel e depois executar a obra.
O Sentimento é análogo o elemento Água, devido ao fato de ser uma atividade introvertida e racional, como quando escolhemos comprar um objeto de acordo cm nossos desejos ou quando emitimos uma opinião de acordo com nossas escolhas afetivas.
Conclusão
Em função do exposto, elaboramos uma tabela relacionando os quatro elementos com suas características:

Finalizando, em nosso mapa astral temos três signos para cada elemento, daí precisamos verificar quais elementos são preponderantes no tema e tentar fazer um equilíbrio com aqueles mais carentes para podermos vivenciar todos os aspectos de nossa psique.
Bibliografia:
- A Teoria dos Tipos Psicológicos, Elvina Lessa, Instituto Junguiano do Rio de Janeiro
- Astrologia, Psicologia e os quatro elementos, Stephen Arroyo, Editora Pensamento, 1975
- Qualidades Primitivas Na Astrologia, Gregório José Pereira de Queiroz, Editora Pensamento, 1989
- O Mistério dos Temperamentos, Rudolf Steiner, Editora Antroposófica, 2002
Imagem de capa do artigo: Les quatre éléments et les quatre humeurs, l’être humain au centre, Barthélemy l’Anglais, Le Livre des propriétés des choses, 1415
Respostas de 4
Muito interessante essa mistura de conhecimento que se complementam
Grato!
Excelente texto sobre “Os Quatros Elementos”
Muito bem elaborado e elucidativo.
Parabéns!
Grato!